quarta-feira, setembro 03, 2014

O DRIBLE

Aplicada com o atraso de uma vida, a estratégia de Murilo, se é que se tratava de algo tão deliberado, era a mesma empregada por sucessivas gerações de pais brasileiros para se aproximar dos filhos. Muita coisa distancia vida afora pessoas que se contemplam sobre um abismo de vinte ou trinta anos — música, moda, política, costumes, tecnologia —, mas “são praticamente indissolúveis os laços forjados na infância em torno das cores de uma camisa, do culto a ídolos vivos ou mortos, do frenesi terrível de se apertarem lado a lado entre milhares de seres humanos reduzidos a uivos primais, o menino de todas as épocas sentindo no estômago o pavor de ser engolido pela multidão e encontrando na presença do pai a segurança necessária para se perder em algo maior do que ele sabendo que, no fim da partida, fará o caminho de volta.


Após fracassar miseravelmente num Dickens, milagrosamente terminar um Eugenides, enfim estou lendo O Drible, do Sérgio Rodrigues, encontrado numa versão em epub na web. Não indicarei o link em virtude de gostar das obras do autor e desejar que o restante do público contribua com ele adquirindo seus títulos ao invés de baixa-los gratuitamente na internet.



Na realidade, não: eis o link pra obra e leiam, pois ele é muito bom, mesmo. Mal aí, seu Sérgio.