quarta-feira, dezembro 23, 2015

DOIS MIL E QUINZE LITERÁRIO SEM PONTUAÇÃO

a negação da morte seguida de luz em agosto obras já esquecidas aqui e ali e atualmente utilizando contos da alice munro num recém adquirido kindle com luz de fundo que eu deveria ter comprado há anos pra me livrar da encheção de saco das correções do franzen e respirar um pouco da salutar injeção de civilidade após a ruína toda de se dar conta da imundice onde estamos metidos pelo texto do dalrymple o maior achado desse 2015 que eu não posso me queixar fazia muito não lia tanto

terça-feira, dezembro 15, 2015

SENTIMENTALISMO TÓXICO

Outro dia, conversava eu com um amigo esquisito, historiador, portanto, esse tipo de pessoa que pensa "a longo prazo". Ele descreveu o que eu consideraria uma imagem de pura escatologia apocalíptica: um dia alguém vai declarar que ir ao banheiro é uma forma de repressão, e, portanto, vão inventar um movimento contra a opressão de ter que usar banheiros. "Que a rua seja o meu banheiro!" 

A tipologia contemporânea de comportamentos tem crescido assustadoramente. O inteligentinho todo mundo conhece: é o tipo de pessoa que acha que problemas como o do Oriente Médio se resolveriam com um ciclo de cinema e debate sobre filmes que narram a vida de mulheres fazendo bolos ou crianças jogando futebol.

Pondé citando as "pessoas que pensam a longo prazo". Quem não (con)vive cercado delas?

quarta-feira, julho 15, 2015

EU TE AMO

Por mais frio, reprimido ou sexista que meu pai pudesse parecer pelos padrões contemporâneos, sou-lhe grato por nunca me ter dito com todas as letras que me amava. Meu pai adorava a privacidade, o que significa: ele respeitava a esfera pública. Acreditava em reserva, protocolo e razão, pois, sem tais predicados, ele achava que seria impossível à sociedade debater e tomar decisões que melhor atendessem a seus interesses. Teria sido bom, sobretudo para mim, se ele tivesse aprendido a demonstrar mais seu afeto por minha mãe. Mas cada vez que ouço pais e filhos gritando seus eu-te-amos no celular, sinto-me um homem de sorte por ter tido o pai que tive. Ele amava os filhos mais que tudo. E saber que ele sentia isso mas não conseguia expressar em palavras; saber que ele podia confiar que eu sabia disso e não tinha expectativa de que ele declarasse seu amor: aí estão a essência e a substância do amor que eu sentia por ele. Um amor que eu também, da minha parte, tive o cuidado de nunca lhe declarar.

Página 56 de "Como ficar sozinho", do Jonathan Franzen pela Companhia das Letras.

terça-feira, maio 05, 2015

MISSÃO NENHUMA

Meses e meses sem nada postar, sem nada escrever. Vai passar. Enquanto isso, resta sugerir (boa) leitura:

Não há “missão” na vida. Viver segundo os prazeres do trabalho, da mesa e do corpo da mulher é tudo que podemos fazer. O puro prazer de existir.
Sem excessos, do contrário, nos tornamos escravos do trabalho, da mesa e do corpo da mulher.
Não porque uma danação eterna nos espera (ninguém nos vigia), mas porque o excesso do desejo destrói seu próprio usufruto na medida em que nos desesperamos com a possível falta do objeto desse desejo.
Dito de forma simples: não queira pegar todas as mulheres do mundo, mas cuide bem daquelas que, por graça da contingência, vierem a sua cama.


Daqui.