quarta-feira, julho 15, 2015

EU TE AMO

Por mais frio, reprimido ou sexista que meu pai pudesse parecer pelos padrões contemporâneos, sou-lhe grato por nunca me ter dito com todas as letras que me amava. Meu pai adorava a privacidade, o que significa: ele respeitava a esfera pública. Acreditava em reserva, protocolo e razão, pois, sem tais predicados, ele achava que seria impossível à sociedade debater e tomar decisões que melhor atendessem a seus interesses. Teria sido bom, sobretudo para mim, se ele tivesse aprendido a demonstrar mais seu afeto por minha mãe. Mas cada vez que ouço pais e filhos gritando seus eu-te-amos no celular, sinto-me um homem de sorte por ter tido o pai que tive. Ele amava os filhos mais que tudo. E saber que ele sentia isso mas não conseguia expressar em palavras; saber que ele podia confiar que eu sabia disso e não tinha expectativa de que ele declarasse seu amor: aí estão a essência e a substância do amor que eu sentia por ele. Um amor que eu também, da minha parte, tive o cuidado de nunca lhe declarar.

Página 56 de "Como ficar sozinho", do Jonathan Franzen pela Companhia das Letras.