segunda-feira, outubro 07, 2019

POR UMA NOVA DISTRIBUIÇÃO DAS CARTAS

Também se pode dizer que mesmo quando pessoalmente a gente já perdeu a partida, quando já jogou a última carta, alguns —não todos, não todos —ainda acalentam a ideia de que algo lá no céu vai anular a mão, decidir arbitrariamente que se distribuam as cartas de novo, que se joguem os dados de novo, e isso apesar de nunca terem vislumbrado, em momento algum da vida, uma intervenção, nem sequer a presença de uma divindade qualquer, apesar de terem plena consciência de que não merecem especialmente a intervenção de uma deidade favorável, e apesar de saberem que, a julgar pelo acúmulo de erros e falhas que constitui sua vida, merecem menos que qualquer um.

Michel Houellebecq em Serotonina.

quarta-feira, agosto 21, 2019

OYNB*

Num desafio autoimposto de cessar o consumo de vinho, cerveja e espumantes por período indeterminado, ultrapasso hoje a marca de 50 dias sem um único gole. Encontrei esse texto sobre ingerir menores quantidades de açúcar no cotidiano e trocando uma palavra ou outra, ele poderia servir perfeitamente para o meu caso com o álcool.

On special occasions – an anniversary, perhaps, or a birthday – I will eat a mouthful of, say, lemon meringue pie. But only as a rare treat, perhaps five or six times a year. Always in the past, after one of my experiments, I would take up the old habits. But not with sugar. It’s not just the long shadow of possible illness. It’s that – like others I know who have stopped – I feel so much better without it. I like knowing that, if I need to, I can hike all day without eating. I enjoy being free of rampaging hunger. Running in the mornings has become a delight. I prefer feeling more serene, less prone to mood swings or afternoon fatigue. My mind feels clearer. I can’t imagine going back. Life is more savory this way.

*One Year No Beer

segunda-feira, abril 22, 2019

U.S.

O extenso e martirizante desenrolar, especialmente desde o fim de setembro e início de outubro, até agora.
O útil, o benefício encontrado em extrair do excesso de angústia o combustível quase que único.
As ocasiões de chuva, de cansaço e suor, de quilometragens antes irrealizáveis, de todos os humores, de quase todos os dias, e a realização de algo que soava distante um bocado das condições possíveis estabelecidas pela realidade. Anterior.

Depois, a incoerência em conquistar algo melhor que o esperado supondo que o esperado era de fato pouco ambicioso demais e acabar não dando o merecido crédito.

O reencontro depois de considerável prazo de tempo. O convívio reafirmando o comum em nós, o exercício de uma das jóias da vida: a amizade.

O sol e as absurdas paisagens, o cão, a solidão, mas também a Glória da Perfeição (sic).

Felizmente houve de tudo.

quarta-feira, março 13, 2019

MÃES

Jordan Peterson escreveu algumas palavras para a sua mãe no octogésimo aniversário dela. Encontro similaridades em vários trechos do texto: faz parte daqueles que eu gostaria de ter escrito, de maneira parecida, endereçado a minha própria. Um parágrafo abaixo, com negrito por minha conta:

That’s my mom. No trouble. Lots of fun
. She doesn’t complain, except sometimes, and then she has her reasons — and always feels guilty about it. She seriously loves her children. She likes to have a glass of wine, and to play practical jokes, and is hospitable to a fault. There are always three meals prepared for guests at my mother’s house, or her cabin, or even when she’s visiting. It’s easy to feel welcome when visiting her. This is a remarkable and underappreciated attribute. It’s much less common than it once was, now that so much resentment appears to have built up in the kitchen and the domestic sphere, where the increasingly common warfare between men and women and their respective duties means that the basic tasks of hospitality have been abandoned, where mealtimes are no longer collective acts of celebration, and where people are chronically preoccupied with their individual electronic addictive social hells.