quarta-feira, dezembro 30, 2009

DA FALTA QUE VOCÊ ME FAZ

Enquanto leio O Jogo da Amarelinha, de Cortázar, me deparo com um texto que soa como um recado:


Oliveira bebeu mais um mate. Tinha de cuidar da erva. Em Paris, custava quintos francos o quilo nas farmácias e tratava-se de uma erva perfeitamente asquerosa que a drogaria da estação Saint-Lazare vendia com a vistosa qualificação de “maté sauvage, cueilli par les indiens”, diurética, antibiótica e emoliente. Por sorte, um advogado de Rosário - que, a proposito, era seu irmão – tinha-lhe enviado cinco quilos de Cruz de Malta, mas já restava muito pouco. “Se a erva acabar, estou frito”, pensou Oliveira. “O meu único dialogo verdadeiro é com essa bebida verde.” Estudava o comportamento extraordinário do mate, a respiração da erva fragrantemente levantada pela água e que, com a sucção, desce até pousar sobre si mesma, perdido já todo o brilho e todo o perfurme a não ser que um pouco de água a estimule de novo, autêntico pulmão argentino de reserva para as pessoas solitárias e tristes.


Devem fazer cerca de duas semanas que a minha erva acabou. Cultivava esperança de que uma outra tripulante brasileira havia trazido, quem sabe algum outro cidadão da latino américa, mas nada. Sem perspectiva de comprar erva-mate em praias caribenhas ou mesmo nos EUA, tratei de comprar uma pequenina máquina de café e tentei, em vão, passar pela segurança do navio. Como tripulante estou impossibilitado de possuir um artefato desses na cabine. Confiscaram-na e agora só me resta sonhar com a mesma sorte do protagonista do paragrafo acima, de uma bem-aventurada alma enviar um pacote que seja.