sábado, janeiro 11, 2014

O RÁDIO AM

Minha relação com o rádio AM, em especial as coberturas esportivas, se estabeleceu ainda na primeira metade da década de 90. Aquela altura ouvia basicamente a Gaúcha, em virtude de que se tratava do melhor sinal, um som sem as estáticas e ruídos comuns a outras emissoras na época, e também porque era muito boa, claramente acima das demais, dos comentaristas aos narradores, da produção aos repórteres, a rádio Gaúcha na década de 90 estabeleceu um parâmetro de qualidade que ela, aparentemente de maneira intencional, no intuito de "atualizar-se", tornar-se contemporânea a geração redes-sociais, procurou se distanciar do passado, modificando desde lindas trilhas de abertura até o seu quadro de profissionais. A qualidade, outrora parâmetro para a concorrência, ganhou contornos de  medíocridade.

No inicio desse século iniciei a busca por outros dials. A Guaíba, naquela epoca com a dupla Reche e Haroldo de Souza como principais protagonistas, me parecia demasiado irritante e com uma conotação populista de causar enjôo. Sempre mais disposta a ficar reclamando de perseguições das arbitragens aos times gaúchos e da concorrência da RBS. Pouca coisa mudou nesses quesitos, mas sem a presença do ex-vereador, de alguns anos pra cá a emissora ganhou um pouco da minha simpatia e o programa de debates ao meio dia é atualmente uma das melhores opções pra se ouvir. Na maioria dos dias conta apenas com cronistas mais velhos, e só isso já bastaria, num atual cenário de coberturas esportivas recheadas de jovens, amantes do futebol europeu e números e táticas e teses e mais teses, do alto dos seus pouco mais de 20 ou 30 anos alçados por si próprios a condição de bastiões da sabedoria futebolística, pretensiosos até a raiz.

Em meio ao distanciamento dos 600mhz e minha aproximação dos 720mhz conheci outra turma. No AM 640 da Bandeirantes, no fim da década de 90, até um pouco além da primeira metade da década seguinte, Paulo Mesquita, João Garcia, Daniel Oliveira, Alexandre Praetzel, Cristiano Silva, Mario Lima, Belmonte, Ribeiro Neto, Hugo Amorim, e outros que minha memória não recorda, sob a égide do maior de todos, Mestre Claudio Cabral, formaram possivelmente o melhor time de profissionais esportivos já formado no radio esportivo gaúcho. O programa de debates ao meio-dia era do gênero imprescindível, balizava minhas ideias sobre a situação dos clubes e a forma com que os jogos haviam ocorrido. Parecia necessário assistir a partida e aguardar pelo programa. Uma tradução do jogo, diferentes e novas perspectivas apresentadas, pontos de vista que com o passar dos anos formaram o alicerce da minha maneira de ver futebol.
O falecimento do Mestre, acrescido com a entrada e a conseqüente saída de alguns, enfraqueceu muito o grupo da Bandeirantes, que parece ter perdido integralmente sua identidade de anos atrás. Uma lástima gigantesca.

O rádio AM segue e provavelmente seguirá sendo um formidável companheiro para as mais variadas ocasiões. Não se larga um habito enraizado a tantos anos de uma hora pra outra, mas que saudade eu sinto de tempos idos, épocas anteriores que, sem quere soar falsamente saudosista, parecem que de maneira alguma voltarão mais.