quinta-feira, julho 26, 2012

S. S.

Soares Silva segue sendo a certeza de uma boa leitura mesmo quando escrevendo numa revista de conteúdo suspeito, desta feita acerca do filme On the Road:


(...)“dirigia um carro como se dirigir fosse uma obra de arte, como se o volante fosse o pincel e a estrada fosse a tela”. Fiquei dias tentando dirigir como se dirigir fosse uma obra de arte. Não dá. Dirigir é só dirigir. Assumi que se tratava de uma paixão gay na qual o menor gesto da pessoa amada é “uma obra de arte”. Kerouac ficou conhecido pelo estilo que chamou de “prosa espontânea”: uma enxurrada não editada de parágrafos. Esse é o ponto em que Truman Capote é sempre citado dizendo que isso “não é literatura, é datilografia”.

Dois, talvez fizesse sentido escrever em 1951 um livro “contestador dos valores da sociedade burguesa”, quando esses valores eram reinantes e, vá lá, opressivos. Mas agora, quando todos os filmes, romances e séries de tevê – todos os estúdios e agências de propaganda – assumem a mesma posição contracultural, o filme perde a força. Qual o sentido de ridicularizar a velhinha coroca que faz o sinal da cruz por qualquer coisa? Ela já não é ridicularizada em todos os outros filmes?