terça-feira, setembro 18, 2012

O TURISTA MASSIFICADO

Trecho do texto do David Foster Wallace encontrado na revista Piauí de setembro intitulado CONSIDERE A LAGOSTA, não disponibilizada pela mesma na web com exceção dos seus assinantes, e lindamente disponível a qualquer vivente através desse link aqui.

Minha experiência pessoal não é a de que viajar pelo país seja relaxante ou amplie os horizontes, ou de que mudanças radicais de lugar e contexto tenham um efeito salutar, mas sim de que o turismo intranacional é radicalmente constritivo e humilhante da pior forma – hostil à minha fantasia de ser um indivíduo genuíno, de viver de algum modo fora e acima de todo o resto. Ser um turista massificado, para mim, é se tornar um puro americano contemporâneo: alheio, ignorante, ávido por algo que nunca poderá ter, frustrado de um modo que nunca poderá admitir. É macular, através de pura ontologia, a própria imaculabilidade que se foi experimentar. É se impor sobre lugares que, em todas as formas não econômicas, seriam melhores e mais verdadeiros sem a sua presença. É confrontar, em filas e engarrafamentos, transação após transação, uma dimensão de si mesmo tão inescapável quanto dolorosa: na condição de turista você se torna economicamente significativo mas existencialmente detestável.

domingo, agosto 26, 2012

MADAM MARATHON

You can’t fake a marathon, kid. Don’t even try. You’ve got to respect the distance. People who try to attempt the 26.2 without adequately building up to it in the weeks and months beforehand quickly find that Madam Marathon knocks them off their feet, stands on their chest, spits on their neck, and hollers, “SAY MY NAME!” Ahem…Madam Marathon’s a wee bit of a dominatrix.

Engraçada e verdadeira matéria da Competitor sobre seis pecados mortais na corrida.

terça-feira, agosto 21, 2012

A ONIPRESENÇA DA ESCRITA

Num texto de 2010, arrisquei previsões sobre como a internet mudaria (ou não) a ficção. As coisas andam rápido, e foi o tempo de relativizar alguns dos meus próprios argumentos. Não o principal deles: a necessidade de uma linguagem autônoma, que se diferencie da torrente de vozes nas redes sociais, o cacarejo teimoso e exaustivo que torna tudo uniforme e irrelevante — expressões raras que viram clichês em dois dias, a originalidade que nasce morta pela replicação imediata e sem crédito, o infinito de opiniões que se anulam umas às outras por excesso, o barateamento de atributos como a ironia (cada vez mais sinalizada e óbvia) e o cinismo (em geral ignorante e falso).

Michel Laub, em um post digno de moldura, no blog da Companhia das Letras.

segunda-feira, julho 30, 2012

DOS CHINESES

Reclamar da falta de educação dos brasileiros é, infelizmente, chutar cachorro morto. De fato, alguém no Brasil que não se atrase, que agradeça e peça desculpas quando necessário é quase sempre um neurótico. “Fulano sempre chega antes do horário marcado e fica bravo com quem chega depois,” descrevem como se fosse uma patologia. Uma pessoa tímida ou reservada, então, não é só doente como também um problema seríssimo para a família e para a sociedade. Em qualquer lugar que se vá, os extrovertidos de plantão tentam a todo custo curar a timidez do pobre coitado – sem nunca levar em consideração que talvez não exista nada de errado ou, mais inimaginável ainda, que o sujeito prefira ser assim. 

Essa é a introdução de um post que trata sobre a China, sobre o povo chinês. Mui recomendavel a leitura do texto da Ieda Marcondes aqui.

quinta-feira, julho 26, 2012

S. S.

Soares Silva segue sendo a certeza de uma boa leitura mesmo quando escrevendo numa revista de conteúdo suspeito, desta feita acerca do filme On the Road:


(...)“dirigia um carro como se dirigir fosse uma obra de arte, como se o volante fosse o pincel e a estrada fosse a tela”. Fiquei dias tentando dirigir como se dirigir fosse uma obra de arte. Não dá. Dirigir é só dirigir. Assumi que se tratava de uma paixão gay na qual o menor gesto da pessoa amada é “uma obra de arte”. Kerouac ficou conhecido pelo estilo que chamou de “prosa espontânea”: uma enxurrada não editada de parágrafos. Esse é o ponto em que Truman Capote é sempre citado dizendo que isso “não é literatura, é datilografia”.

Dois, talvez fizesse sentido escrever em 1951 um livro “contestador dos valores da sociedade burguesa”, quando esses valores eram reinantes e, vá lá, opressivos. Mas agora, quando todos os filmes, romances e séries de tevê – todos os estúdios e agências de propaganda – assumem a mesma posição contracultural, o filme perde a força. Qual o sentido de ridicularizar a velhinha coroca que faz o sinal da cruz por qualquer coisa? Ela já não é ridicularizada em todos os outros filmes?

quarta-feira, julho 18, 2012

TRINTA

Meu ingresso na terceira década de vida teve um simbolismo do ponto de vista físico bastante intenso. Em raras ocasiões tive de ser medicado, excetuando-se numa gripe, eventual dor de cabeça, ou problema estomacal, remédios são estrangeiros no meu corpo. No que tange a músculos, articulações, ligamentos e coisas do tipo, possui algumas mazelas nas pernas devidos ao habitual running, algo normal. Faltando 2 dias para o meu aniversário, num exercício mal conduzido para os ombros (ou por outro motivo, é difícil supor), ingressei no mundo das lesões, e só hoje, passados mais de 10 dias, posso me considerar "curado". Na realidade mais torço do que posso assegurar estar em boas condições. Foi um horror, dores lancinantes próximas dos pescoço, envolvendo o trapézio direito e descendo quase a altura do meio das costas, que fizeram com que em seu ápice, no meio duma madrugada, eu levantasse da cama e me dirigisse ao sofá pra assistir algo na tv e fugir daquele mal-estar profundo, a quase impossibilidade de permanecer na horizontal. Vencido, chorei de pura dor como não lembro de em outra ocasião ter feito.
Como eu disse, quase 10 dias depois, ainda tenho enorme receio de realizar qualquer exercício que envolva alteres, repetições e pesos. Corri uns bons quilômetros, mas nada sob a estrutura acima da cintura.
Amanhã, possivelmente, dê cabo desses receios todos. Volte a levar meu estilo tolerável de vida, e para isso, necessariamente estão envolvidos meus habituais exercícios. Me privar deles, algo que repetidas vezes fiz ao longo desses 30 anos, nunca foi uma boa ideia.

sexta-feira, março 23, 2012

DE VOLTA À VOLTA

Tendo recebido um convite maravilhoso de meu colega de corrida da cidade vizinha, em cima da hora demais para que eu dissesse não, dia 14 de abril correrei pela segunda vez a prova que faz a volta na ilha de
Florianópolis.
Exagero a parte, nunca foi tão dificil cumprir meu costumeiro trajeto. Parece que, com uns meses de antecedência, meus 30 anos começam a mandar a conta. Numa contagem regressiva que hoje estabelece a marca de 21 dias, em seguida dou prosseguimento a tentativa de obter aquele minimo de condicionamento físico para ter uma performance digna e honrosa.
Vai dar.

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

DAS COCEIRAS DA VOLTA A ATIVA

Um dia após regressar duma extensa jornada pelos Estados conhecidos pelas siglas GO e SC, com uma significativa parte do corpo tingida por um desagradável vermelho adquirido pós exposição incorreta e exagerada a ele, o Astro Rei, decidi que deveria por bem voltar a vida atlética, ao suor, a queima calórica, a endorfina, e a tudo o mais que a corrida proporciona.
Já noitinha com clima mais fresco, foi mais ou menos quando havia cumprido 40% do costumeiro trajeto de subidas e descidas de pouco mais de 7km que uma pequena coceira resolveu aparecer lobo abaixo da região toráxica, de ambos os lados se estendendo até quase o umbigo. Essa, até então, pequena coceira, demorou mais um ou dois quilometros pra cruelmente se manifestar por toda a região frontal do meu corpo, abaixo do pescoço e até a cintura, toda área onde a equivocada exposição ao sol havia deixado marcas, toda ela coçava. Com minhas duas mãos freneticamente tentava aplacar essa coceira terrível que só pode encontrar similar nos meus anos de vida, quando aos 19 anos de idade fui alvo duma tardia manifestação de varicela, a CATAPORA. Noite inteira sem conseguir dormir, devido a impossibilidade de deitar a cabeça no travesseiro. Metade do corpo tomado por bolhas e feridas da infecção.
A impossibilidade de não coçar, melhor, de DEIXAR DE COÇAR acrescido do fato de que o regresso da alergia se dava dentro de menos de 5 segundos após a pele ser intensamente friccionada, e ela, que se manifestou no km 3, tornou-se incontrolável no km 4 e fez com que eu cessasse a corrida numa atitude desesperada a uns 2km de distância de casa, seguiu por mais umas 2 horas, mostrando pequenos indícios de sua existência mesmo momentos antes de eu apagar no sono.
O misto de temperatura em ebulição, suor, pele queimada e toda a quimica restante ocasionada devido a corrida criou um monstro alérgico que mesmo um gelado banho de chuveiro não conseguia remediar.
O primeiro passo para o regresso a um melhor condicionamento físico não podia ter sido mais sofrido e difícil. Já passada uma semana, não tive coragem de correr novamente. Trauma que deve acabar entre amanhã ou depois.
Jesus Cristo, acreditem, que coceira, mas que coceira foi aquela!