quinta-feira, agosto 16, 2007

16/08/2006

Aguardava com ansiedade pelo que o Ceconello iria falar acerca de hoje, a exatos um ano atrás. Cobrei dele via e-mail alguma palavrinha sobre o 09.08.06, e ele me disse que eu deveria aguardar, pois só uma semana depois ele se pronunciaria. Sabia que sairia o melhor texto sobre a data, como de praxe acontece. Bom, tive minhas expectativas plenamente satisfeitas.

O jogo recomeçou. Lá pelas tantas, o São Paulo empatou, Tinga marcou e foi expulso, o ferrolho foi armado. Faltavam 20 desgraçados minutos. O São Paulo empatou de novo. E os oito minutos seguintes foram o maior desafio ao entendimento sobre o funcionamento dos relógios e do tic-tac dos ponteiros em todos os tempos. Todos vestíamos camisas 3 e 4, comemorando e nos aliviando até com arremessos laterais. E veio aquela seqüência de escanteios nascidos no inferno.

Pra mim, o 16 de agosto do ano passado representou o apíce da angustia em termos futebolísticos. Nenhuma partida foi ou será igual aquela e eu sei disso.
Assisti horrorizado ao jogo com meu irmão e meu pai a minha esquerda, cada um com um sofá a disposição e eu tendo me instalado numa cadeirinha no corredor da apertada salinha lá de casa, que havia dado sorte em todos os jogos da campanha. Ariel esteve presente apenas na primeira etapa, e eu ainda perdi os primeiros 10 minutos de partida. Terror mental sem precedentes.
A sequência de escanteios nos instantes finais que o Ceconello lembra ali em cima, ainda hoje, se emulada, me provoca arrepios, basta um pequeno exercício de memória e a lembrança vem a tona de forma arrebatatória.
Gosto das lembranças familiares dessa data, gosto de lembrar do apito final e o meu pai se levantando da poltrona, partindo em direção ao seu radinho de pilhas e indo pra garagem fumar o seu chanceller, depois de permanecer o segundo tempo inteiro sem uma única pitada; meu irmão indo pra frente de casa transtornado querendo tornar pública a sua alegria e eu indo lhe entregar uma lata de cerveja e uma bandeira do colorado, confeccionada com o mais miseravel dos materiais e que eu havia comprado no Inter 1 x 0 Palmeiras de 99. E eu, aliviado e num estado de consciência difícil de ser atingido novamente, me deixei levar, me permiti esquecer de todo resto, fui pra minha casa, aguardei Fernandão levantar a taça enquanto lia os jornais que haviam antecedido a data e que eu havia intencionalmente ficado distante, e ouvia alguma das rádios AM que transmitiam direto do Beira-Rio. Recebi a visita de Bijuja e sua menina, abracei-os, ouvimos juntos o hino do Inter no repeat do media player e admito que o resto da noite nem foi tudo isso, exagerei no trago, fiz coisas que não devia, mas fui inapelavelmente perdoado ali pelas 10 da manhã, quando acordei atrasado e de ressaca e fui até a tabacaria comprar o meu exemplar de Zero-Hora, que hoje está estampado numa das paredes lá de casa, e que em letras vermelhas continha a tão sonhada frase: A América é Vermelha.