sexta-feira, dezembro 05, 2008

CUENCA

Você não encontra literatura na maioria dos livros que estão numa livraria. Você encontra receitas para a felicidade, para cozinhar um bolo, para cuidar de um cão, para manter um relacionamento. E encontra algumas tentativas de ficção. Ruins, razoáveis, boas. A parte que realmente interessa ali, em minha opinião, é muito pequena. E, na internet, é a mesma coisa. Como é na humanidade em geral. A internet dá voz a uma multidão descontrolada de pessoas que produzem muito irregularmente o que pode ser ou não ser chamado de literatura. Mas acho isso fantástico. Essa necessidade de expressão é fantástica. A garota de 14 anos que escreve em miguxês, aquela linguagem horrorosa. É fantástico: ela está se expressando, usando palavras para se expressar. Outro vai ler e vai passar adiante. Eu não acho isso trágico. Tem gente que acha uma loucura, que a gente está vivendo uma era de caos e destruição, que a internet é o início do fim. Eu acho que não, muito pelo contrário.

João Paulo Cuenca, falando para o Rascunho. Tenho de tratar de ler esse cidadão.