terça-feira, dezembro 23, 2008

ROTH

Embora na maioria dessas ocasiões eu e Bern terminássemos falando sobre livros e o trabalho do escritor, um quase nunca mencionava a obra do outro, observando uma regra jamais escrita que rege o comportamento dos romancistas, tal como o de jogadores de times rivais, que compreendem que é impossível ser totalmente sincero por maior que seja o respeito mútuo. Segundo Blake, “a oposição é a verdadeira amizade”, mas embora a frase pareça de um vigor admirável, em particular para aqueles que gostam de discutir, e embora no melhor dos mundos possíveis talvez ela fosse aplicável, em meio aos escritores deste nosso mundo, em que a mistura de suscetibilidade com orgulho pode se tornar muito explosiva, as pessoas se contentam com algo um pouco mais ameno do que a oposição desabrida, senão se torna impossível fazer amigos entre seus pares. Até mesmo os escritores que adoram oposição normalmente não agüentam mais do que a dose que recebem no seu trabalho cotidiano.

Genial trecho do novo livro de Philip Roth, o cidadão que escreveu a grande obra que li nesse 2008. O presente de natal que, tivesse sido uma persona melhor, tivesse tomado aquele chá de decência que me prometi lá pelo meio do ano, quem sabe, poderia vir a ganhar do velho Noel.